Antônio Ilário Ferreira, conhecido como Rabicó, é um nome que ressoa com força no universo do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ligado à facção Comando Vermelho (CV), ele é considerado uma das figuras mais perigosas de São Gonçalo (RJ), onde chefia o tráfico no Complexo do Salgueiro.
Rabicó foi preso em 2008 em Mamanguape, Pernambuco, onde levava uma vida dupla. Para os vizinhos, ele era um empresário do setor de reciclagem, morando tranquilamente com sua família. Mas, para a polícia, ele era um dos maiores traficantes do estado, gerenciando uma vasta operação criminosa. Condenado a mais de 27 anos de prisão, cumpria sua pena em uma unidade prisional de segurança máxima em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
No entanto, em 2019, Rabicó foi beneficiado pela Justiça e solto após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que concedeu uma liminar permitindo que ele aguardasse em liberdade o recurso do processo que o mantinha preso. Após mais de 11 anos encarcerado, ele retomou rapidamente o controle do tráfico no Complexo do Salgueiro, ainda que sua condenação em três processos por tráfico não fosse definitiva.
Pouco depois de sua soltura, em abril de 2019, Rabicó viu seu domínio ser desafiado por uma grave crise interna no Comando Vermelho. Criminosos fortemente armados, conhecidos como o “bonde do Rabicó”, promoveram uma caçada nas comunidades de São Gonçalo para capturar e matar Thomas Jhayson Vieira Gomes, o 3N.
A ação resultou em um racha na facção, com 3N abandonando o CV e se unindo ao Terceiro Comando Puro (TCP), tornando-se um dos rivais mais perigosos de Rabicó.
Desentendimento com outros líderes do CV
As tensões internas no CV não pararam por aí. Uma série de medidas adotadas por Rabicó após sua soltura descontentaram outras lideranças da facção, como Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que cumpre pena em um presídio no Paraná.
Entre as decisões polêmicas de Rabicó estavam a cobrança de taxas de comerciantes no conjunto de favelas, prática reprimida por Marcinho VP e seus aliados.
A situação se agravou quando figuras influentes do CV, incluindo a esposa de Marcinho VP, se reuniram no Complexo do Salgueiro para discutir as ações de Rabicó. O resultado foi um corte nas regalias do traficante, que não gostou nada da decisão. Conhecido por sua alta periculosidade e ambição por poder, Rabicó estava cada vez mais isolado dentro de sua própria organização.
A gota d’água veio com a promoção da traficante Rayane Nazareth Cardoso da Silveira, conhecida como Hello Kitty. Rabicó queria colocá-la na gerência de uma comunidade no Jardim Catarina, o que causou um mal-estar entre os antigos traficantes locais, Neuber e Telminho. A decisão de Rabicó foi mal recebida e intensificou ainda mais as divisões dentro do Comando Vermelho.
Homenagem
Entre a noite da última sexta-feira (14/6) e a madrugada de sábado (15), Rabicó comemorou 61 anos de vida com direito a festa “ultra” reservada, segundo divulgado pelo jornal O São Gonçalo, parceiro do Metrópoles.
Para burlar os setores de inteligência da polícia no Rio, os organizadores do evento receberam ordens das lideranças do Comando Vermelho de não trocar informações por telefone. Além disso, a comunidade não pôde falar sobre os festejos nas redes sociais antes que tudo acontecesse.
Durante a madrugada, Rabicó foi homenageado com um balão, decorado com lanternas e puxando uma “cangalha’” de fogos, bombas e grande letreiro luminoso com os dizeres “CV Sal” foi lançado ao ar em meio a intensa soltura de foguetes em diferentes pontos da comunidade.
Só após o lançamento do balão e do foguetório é que as imagens e um vídeo foram colocados na internet, quando Rabicó já teria deixado o Salgueiro, com cerca de dez seguranças armados com fuzis, em três carros, pela estrada que liga o Salgueiro a Itaboraí.
Fonte: Metropoles